Touros é um dos municípios do Rio Grande do Norte, sendo desmembrado politicamente em 1835 do município de Ceará-Mirim. Localizado no na região do nordeste brasileiro e no extremo leste do continente americano é o ponto mais próximo da África seguindo em linha reta pelo Oceano Atlântico. Touros também é conhecido como “A Esquina do Continente” ou “Esquina do Brasil” por ser o ponto onde o continente faz uma curva. Em 1501 desembarcou nas praias do litoral de Touros uma expedição exploratória, comandada por Gaspar de Lemos servindo aos interesses da coroa portuguesa, no dia 7 de Agosto, representando a posse portuguesa chantaram um marco, feito em mármore e possuía o desenho da Cruz de Malta e da Ordem dos Cavaleiros de Cristo.

 

     Em 1797, as margens do rio Maceió, rio que banha a cidade de Touros, foi encontrado um caixão de madeira. Dentro do caixão havia a imagem do Bom Jesus dos Navegantes, talhada em madeira de jacarandá, medindo 1,70m de altura. No ano seguinte, teve início à construção da igreja sob a supervisão do Frei Serafim, da então Vila de pescadores de Touros, com pedras da praia em estilo barroco. A construção ocorreu entre os anos de 1798 a 1800.

Acreditasse que logo após a construção da igreja e de ser entronizado o Bom Jesus dos Navegantes em seu altar, tenha começado a crença e devoção imagem. As festividades em honra ao Bom Jesus dos Navegantes ocorrem no mês de Dezembro, com início no dia 22 e término no dia 02 de Janeiro.

 

       A abertura das celebrações ao Bom Jesus dos Navegantes tem inicio no dia 22 de dezembro. Às 5h da manhã sai pelas ruas da cidade a alvorada, a banda de música da cidade sai entoar cânticos religiosos, entre eles o hino do Bom Jesus dos Navegantes. Ao final da tarde, sai à carreata com o barco peregrino de uma das comunidades de Touros com destino a igreja matriz, onde às 19h acontece o hasteamento das bandeiras. Do dia 23 ao dia 31 acontecem todas as noites as novenas, orações feitas por nove dias consecutivos. Na noite do dia 30 acontece, na lateral da igreja matriz, a Barraca, parte social da festa, momento de reencontro e confraternização da comunidade. E também de angariar fundos para as atividades da igreja, na barraca são feitos leilões de animais doados para a igreja.

 

      As comemorações da festa do Bom Jesus dos Navegantes acabam coincidindo com os festejos da virada do ano. Momento de renovação em todas as partes da cidade. As mudanças são de caráter físico, espiritual e material, o frenesi começa logo que chega o mês de dezembro, reformas nas casas são feitas, outras casas são pintadas, móveis novos são comprados, outro hábito bem comum é lavar toda a louça da casa. As casas são preparadas para receber os parentes que voltam para os festejos de ano novo e do Bom Jesus dos Navegantes. Também chegam à cidade muitas pessoas de outras partes do Rio Grande do Norte, e de outros estados vizinhos, todos veem por sua devoção no Bom Jesus dos Navegantes. Roupas, sapatos fazem parte da lista de aquisições do momento, também é uma época onde todos os salões da cidade ficam lotados com as mulheres se embelezando. Para as crianças, é com certeza um momento muito esperado, por que é justamente quando o parque de diversões chega à cidade, as crianças enlouquecem querendo brincar, e, para os adultos há as barracas de tiro, com espingardas de chumbinho, diversão para crianças e adultos.

 

      Com a família reunida é chegada a hora de receber o novo ano que se inicia, o novo ano é recebido com bênçãos e fogos de artificio, centenas de pessoas dirigem-se, com seus familiares, a lateral da igreja matriz onde é feita uma pequena celebração. É mais um momento de confraternização e de reflexão. Em outra parte da cidade, em clube, há apresentações de bandas artísticas, que também acontecem na noite do dia 1 de janeiro. Na primeira manhã do ano acontece o pingo, também na lateral da igreja matriz, todas as premiações são doadas por comerciantes da cidade.

 

      O ponto alto da festa do Bom Jesus dos Navegantes é a descida e procissão na tarde do dia primeiro. Na igreja repleta de pessoas o Bom Jesus é retirado de seu altar e depois é posto em seu barco-andor, foi doado em 1966 por Luiz da França Varela após ter alcançado uma graça. A procissão sai com a banda de música anunciando-a. À frente padres, diáconos, o bispo e os coroinhas, em seguida andor com o Bom Jesus dos Navegantes seguido por milhares de devotos, fiéis pagando suas promessas com pedras nas cabeças, outros com os pés descalços, tantos outros com roupas alusivas às vestis de São Francisco de Assis. O cortejo segue pelas principais ruas da cidade, e a cada metro andado mais e mais pessoas se juntam a ele. Em pontos estratégicos, principalmente em casa de dois andares, quando o andor chega à frente dessas casas, os donos soltam balões brancos e fogos de artificio. O cortejo segue ate a beira mar voltando à igreja, onde é realizada uma missão.

 

      No dia 2 de janeiro, pela manhã, acontece o encerramento da festa do Bom Jesus dos Navegantes. Na igreja matriz é celebrada uma missa e a imagem do Bom Jesus dos Navegantes é entronizada novamente, é a chamada subida do Bom Jesus.