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A lenda do Solar Ferreiro Torto

Estatua representando a escravidão nas terras do Ferreiro Torto, também faz parte da lenda da sinhazinha com o negro. Ela foi construída por Etevaldo, artista macaibense no ano de 2003. Acervo: Maria Adamires Silva.

         O solar (casarão) do Ferreiro Torto está situado no município de Macaíba/RN, na região Nordeste do Brasil. Foi construído no século XVII e tinha o nome de engenho do Potengi, pois o rio homônimo passa ao lado do engenho.  Segundo os relatos históricos foi o 2° engenho de cana-de-açúcar a ser erguido no Rio Grande do Norte. 

 

            Em 1845, o Cel. Estêvão José Barbosa de Moura havia herdado o engenho Ferreiro Torto do sogro Joaquim José do Rego Barros, coronel de milícias. Dois anos depois, o Cel. Estêvão Moura demoliu a antiga construção de taipa existente do sogro e fez erguer o atual casarão, com base em planta quadrangular de sua autoria, confortável e elegante palacete, moldado em estilo colonial português desenvolvido em dois pavimentos. Em sua composição todo o material e ferragens vieram da Europa, com mobiliário português no estilo manuelino. Em cada quina da casa foi inserida uma pinha decorativa de cerâmica portuguesa, com faixas horizontais que se destacam na superfície.

 

         D. Isabel Cândida de Moura Chaves, filha de Estevão e Maria Rosa, casada com o Dr. Francisco Clementino de Vasconcelos Chaves, herdou o solar após o inventário do pai. Foi no Ferreiro Torto que D. Isabel Cândida deu a luz ao Dr. João Chaves. Em 1910, D. Suzana Teixeira de Moura comprou dos tios a propriedade Ferreiro Torto, vendendo-a ao comerciante Manuel Machado em 1914. Dai em diante o solar ficaria também conhecido por pertencer à famosa Viúva Machado - D. Amélia Duarte Machado, viúva de Manuel Machado, dona de muitos imóveis em Natal. Em 1978, as terras foram desapropriadas pela prefeitura de Macaíba.

 

          Na década de 1980, o solar foi restaurado para se tornar a sede do Poder Executivo do município, no período de 1983 a 1989, o que, infelizmente, modificou a estrutura original do prédio. Em 1994, o Ferreiro Torto foi tombado pela Fundação José Augusto, pois guarda em seus aposentos fragmentos da história do Município de Macaíba.

 

           Localizado no Solar do Ferreiro Torto o museu fica em Macaíba a 18 km de Natal. A origem do nome Ferreiro Torto veio através de um coqueiro muito alto e torto que tinha na porteira da fazenda e, quase embaixo dessa árvore, um ferreiro havia montado a sua tenda e oferecia os seus serviços aos tropeiros, que por ali passavam e tinham necessidade de corrigir as ferraduras dos seus animais.

          Associados à história do solar, segundo o agente cultural Wedson Nunes, existem até o momento 20 lendas contadas pelos populares, sendo a mais famosa a da “Sinhazinha”, filha do senhor do engenho.

 

             Segundo essa lenda, a filha do senhor do engenho se apaixona pelo escravo de seu pai e começa a se encontrar às escondidas com ele, em um desses encontros, o seu pai, o senhor do engenho, ao chegar na varanda da casa vê sua filha conversando com o escravo, fica com muita raiva e atira em direção ao escravo. Sua a filha, ao ver a cena, se põem na frente do escravo e o tiro acaba acertando nela, que não resiste e morre, o senhor ficou com tanta raiva e fúria que mandou enterrar o escravo vivo, de cabeça para baixo, em frente a sua casa.

 

              Andar no período da noite no espaço do Museu Solar Ferreiro Torto não é uma atividade aconselhada. Wedson relata que os mais velhos moradores da antiga Vila Coité comentam que, quando o sol se põe, ações misteriosas ocorrem naquele ambiente, principalmente, no manguezal existente no local. Vários moradores relatam, com convicção, que viram, por diversas vezes, uma luz aparecer e movimentar-se no meio do matagal, precisamente, por trás das ruínas da antiga Casa de Purgar do Engenho Potengi, construída pelo Capitão Francisco Rodrigues Coelho. Ninguém sabe exatamente explicar de onde é proveniente a luz. Alguns imaginam que seja de um candeeiro sendo utilizado pelo espírito de um escravo à procura da botija enterrada pelo Coronel Estevão José Barbosa de Moura (Senhor do Engenho).

Instrumentos da casa de farinha do engenho. Acervo: Maria Adamires Silva.

Moenda - Servia para moer a cana e era movida por mão de obra escrava ou através de animais como o Boi. Acervo: Maria Adamires Silva.

Canhão utilizado para a defesa das terras. Acervo: Maria Adamires Silva. 

           O Museu Solar Ferreiro Torto é ladeado de estórias assombrosas. Muitos visitantes, principalmente os provenientes do próprio município, relatam escutar vários gritos de dor e choros de lamento, além de sons de correntes arrastando pelo local, saindo, na maioria das vezes, de dentro da antiga Casa Grande e das imediações das ruínas da Senzala. Dizem que tratam-se de espíritos de escravos, os quais, não conformados com os severos castigos que recebiam do senhor de engenho, retornam para lamentar e assombrar, em especial, as pessoas com a pele clara.

 

               Depois de funcionar como sede da prefeitura da Macaíba, foi transformado em museu municipal na gestão Odiléia Mércia Mesquita. Posteriormente fechado, foi reaberto como museu regional na gestão Mônica Nóbrega Dantas. Novamente fechado, e, após sofrer assaltos e depredações, foi reinaugurado como Complexo Turístico e Cultural Solar Ferreiro Torto, em abril de 2003, durante a gestão do prefeito Fernando Cunha Lima Bezerra, apresentando uma coleção de fotografias antigas da cidade da Macaíba e de seus filhos que se nos destacaram mais variados segmentos sociais.

 

               O acervo do museu é composto por peças de arte sacra (imagens de santos e santos, alguns representados através da estética barroca, vestimentas de sacerdotes, sacrário, cadernos de registros da igreja); móveis (cadeiras, mesas, estátuas, baús, quadros); instrumentos da casa de farinha (ralador de mandioca, prensa, peneira, depósito, forno); instrumento de tortura utilizado para castigar os escravos encontrado há pouco tempo ainda não denominado; fotografias antigas da cidade de Macaíba, de pessoas que se destacaram na cidade (Prefeitos, por exemplo)  e, na parte de fora, um canhão que servia para a defesas das terras e uma moenda que era utilizada para moer cana.

 

             O espaço dispõe de guias turísticos e funciona com visitas agendadas de terça a domingo, nos horários das 08:00 às 11:00 e das 13:00 às 17:00 horas, com entrada gratuita.

REFERENCIAS:

 

CAVALCANTI, Thiago. Engenho Ferreiro Torto: O solar dos Mistérios. REVISTA BZZZ. Natal, a.2, n.17, p.54-61, nov. 2014.

 

LIMA, Eliane. Solar Ferreiro Torto: o descaso continua, o esquecimento persegue. Disponível em: http://blog.tribunadonorte.com.br/abelhinha/82624 acesso em: 25-02-2015

 

Entrevista com Wedson Nunes agente cultural responsável pelo Solar Ferreiro Torto. 

 

Maria Adamires da Silva

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